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Interpretando o Sermão da Montanha

Interpretando o Sermão da Montanha

''E, levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem e quando vos separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do homem. Folgai nesse dia, exultai; porque eis que é grande o vosso galardão no céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas. Mas ai de vós, ricos! porque já tendes a vossa consolação. Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, os que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis. Ai de vós quando todos os homens de vós disserem bem, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas.'' Lucas 6: 20 ao 26

 

O sermão da montanha é um dos sermões mais icônicos da história. Ele foi feito pelo próprio Cristo e também é denominado sermão das bem-aventuranças. Jesus estava em um ponto chave do seu ministério. Neste momento ele resolve estabelecer bases do ensinamento moral dele. É importante lembrar que na época dele já havia a Lei de Moisés e os escritos dos profetas. Por isso, muito do que ele pregou se tratava de ensinamento moral e de interpretação mais realista e prática destes livros sagrados.

 

Quando se trata de interpretação do sermão da montanha é muito utilizado por teólogos assembleianos, batistas e presbiterianos o método gramatical de interpretação. Neste método busca-se encontrar cada sentido de cada palavra e oração do texto. Recorre-se ainda aos textos nas línguas originais da Bíblia: Hebraico, Aramaico e Grego.

 

Recentemente eu comecei a ler uma excelente obra sobre o sermão da montanha de Charles Spurgeon, famoso pregador batista inglês do século XIX. Ele traz uma interpretação com ótimas reflexões explicando na prática, por exemplos, o que significa ter sede de justiça e o que significa herdar a Terra pela mansidão. Eu mesmo também já trabalhei bastante dentro dessa perspectiva.

 

Todavia, eu tenho percebido que o método de interpretação histórico-gramatical se demonstra mais eficaz e elucidativo em alguns pontos deste texto. Este método procura analisar o contexto histórico, social e cultural pela qual o texto foi escrito. Quando Jesus, por exemplo, fala que os pobres são bem-aventurados porque herdarão o reino dos Céus ele está falando isso por causa que na sua época a maioria das pessoas que acreditaram nele eram pobres. Alguns ricos como Zaquel, o cobrador de impostos, se converteram, mas a maioria (muitos fariseus e romanos) eram tão orgulhosos e gananciosos que não tiveram a humildade necessária para crer nele.

 

O mesmo método de interpretação se aplica quando se trata dos que tem fome, dos que choram, dos que buscam a justiça, dos perseguidos, dos mansos, dos misericordiosos e dos puros de coração. Estes eram os que seguiam Jesus naquela época em contraste com os fartos, com os ricos, com os que riam e com os benditos pelas pessoas (Lc 6:24 ao 26). Esses em sua maioria não criam em Jesus. Já os que acreditavam em Jesus seriam recompensados com a salvação, ou seja, eram os felizes, bem-aventurados.

 

Uma parte do ensinamento de Jesus se trata de contraponto aos costumes e práticas dos falsos religiosos de sua época. Jesus observava o comportamento hipócrita e incrédulo deles e não se agradava nenhum pouco. Mesmo presenciando vários milagres e prodígios eles o negavam. Cabe lembrar que eles não eram leigos, mas rabinos treinados (teólogos do Judaísmo). 

 

Por fim, é importante destacar que essa perspectiva não pretende ser definitiva e nem exaustiva, mas é a meu ver uma proposta hermenêutica e exegética (ciências da interpretação) bastante elucidativa. O debate e a pesquisa exegética no Brasil precisa continuar evoluindo. O correto entendimento da palavra de Deus é fundamental para o nosso relacionamento com ele. Entender a Bíblia é entender a vontade divina.